PARABENS GRANDE "MOZART"
Johannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart nasceu em Salzburgo a 27 de Janeiro de 1756. Os dois primeiros nomes evocam São João Crisóstomo, cuja festa se celebra a 27 de Janeiro. Theophilus (que significa "Amado dos Deuses") era um dos nomes do seu padrinho. Mozart viria a usar mais tarde a variante italiana de Amadeo, a versão afrancesada de Amadé ou o alemão Gottlieb. Poucas vezes terá adoptado a variante latina de Amadeus, com a qual ficou conhecido pela posteridade.
Uma das principais pontes de contacto entre Mozart e a obra de J. S. Bach fez-se por via do barão Gottfried van Swieten. Nas sessões semanais que este organizava na sua casa, em Viena, Mozart conheceu A Arte da Fuga e o Cravo bem Temperado, entre outras obras do compositor alemão. A sua influência reflectiu-se no estilo mais contrapontístico das últimas criações de Mozart, por exemplo em passagens de A Flauta Mágica, no andamento final da Sinfonia Júpiter ou no Requiem.
Em Mozart encontramos a síntese perfeita entre forma e conteúdo. Graças à sólida formação fornecida pelo seu pai, Leopold Mozart, e às múltiplas viagens que efectuou pela Europa, tomou contacto com toda a música do seu tempo, o que lhe permitiu absorver com extraordinária rapidez os traços essenciais das vários tendências estilísticas. Ao mesmo tempo que superava os seus modelos, operava uma admirável síntese dos estilos nacionais, que faz dele uma espécie de espelho da sua época e, juntamente com Haydn e Beethoven, um dos mais perfeitos exemplos do classicismo musical.
A produção concertante é um dos grandes legados de Mozart, sobretudo os 27 concertos para piano e orquestra. Os primeiros seguem o modelo pré-clássico, mas a partir do Concerto em Ré maior, K.175, de 1773, Mozart empreendeu uma profunda renovação. A orquestra passou a adquirir maior importância, rivalizando em protagonismo com o solista, e o piano converteu-se, nas obras de maturidade, no poderoso instrumento anunciador da expressividade do Romantismo. Não obstante ter dotado o género de um conteúdo novo, em termos estruturais Mozart continuou a adoptar a tradicional estrutura em três andamentos.
Compôs também concertos para violino, trompa, clarinete, fagote, flauta ou oboé, um concerto para flauta e harpa e a Sinfonia Concertante, para violino e viola.
Compôs também concertos para violino, trompa, clarinete, fagote, flauta ou oboé, um concerto para flauta e harpa e a Sinfonia Concertante, para violino e viola.
Judeu convertido ao catolicismo, padre, libertino e libretista talentoso,Lorenzo da Ponte foi uma personalidade fora do comum. Dotado de grande cultura grande sentido teatral, estabeleceu com Mozart uma frutuosa colaboração, da qual resultaram três obras-primas: As Bodas de Fígaro (1786), D. Giovanni (1787) e Così Fan Tutte (1790). A mais perfeita simbiose entre música e teatro,com alguns toques de subversão no plano da sátira social.
VienaEm 1781 Mozart rompeu com o príncipe-arcebispo Hieronymus von Colloredo e abandonou Salzburgo para se instalar em Viena. Trocava a posição de músico-funcionário, característica do Antigo Regime, pelo estatuto de artista livre. Os primeiros anos em Viena foram bastante prósperos. Mas depois de quatro ou cinco temporadas foi perdendo a popularidade, os gastos familiares aumentaram, a saúde deteriorou-se e não conseguiu nenhum cargo estável, salvo um título honorífico em 1787 como compositor de música de câmara do imperador, com um salário que era menos de metade do que havia recebido Gluck antes dele. A maior parte das obras que imortalizaram Mozart foram compostas nestes dez últimos anos de vida, que acabariam em miséria e sofrimento. O menino-prodígio que tinha deslumbrado a Europa durante 30 anos, autor de algumas das maiores criações da humanidade, foi depositado numa vala comum no cemitério de Saint-Marx.
A Empfindsamkeit (ou estilo da sensibilidade) teve em Carl Ph. E. Bach o seu principal cultor. Caracteriza-se pelas ousadias harmónicas, a profusão da ornamentação, o uso de uma espécie de estilo recitativo aplicado à música instrumental (na herança do stylus phantasticius da época anterior) ou os contrastes abruptos entre secções. Encontra-se presente em várias obras de Mozart, com particular incidência nas belíssimas Fantasias para piano.
O estilo galante é outro dos ingredientes-chave da música de meados do século XVIII, que Mozart absorveu, subvertendo subtilmente as suas fórmulas de modo a causar surpresa ao ouvinte. Alguns dos seus principais traços eram a supremacia da melodia sobre a harmonia, o uso de figurações de acompanhamento como o baixo de Alberti ou a periodicidade rítmica (geralmente em grupos de quatro compassos).
Mozart conheceu Haydn aos 12 anos, passando a nutrir por ele uma admiração que durou toda a vida. Haydn considerava Mozart o maior compositor do seu tempo. Em 1785, Mozart dedicou-lhe seis quartetos de cordas, "fruto de um grande e laborioso esforço", que se contam entre a suas mais inspiradas criações. O último é o famoso Quarteto das Dissonâncias K. 465.
Infância
Mozart foi o mais extraordinário menino-prodígio da história da música. Começou a compor antes dos cinco anos e aos seis apresentava-se na corte da imperatriz Maria Teresa. O mito da "eterna criança" associado à vida e à personalidade do compositor tem porém algo de paradoxal, se pensarmos que durante a infância Mozart tinha as obrigações e compromissos de um intérprete e compositor profissional em digressão pelas principais capitais europeias. Aos treze anos já tinha composto em todos os géneros da sua época: sonatas, concertos, sinfonias, obras religiosas e óperas."
Ludwig von Köchel realizou em 1862 o primeiro catálogo temático das mais de 600 composições de Mozart. Desde essa data tem vindo a ser actualizado em edições sucessivas. Os números de Köchel (K. ou KV) usam-se universalmente para identificar as obras do compositor.
Leopold
Leopold Mozart era violinista na capela do arcebispo de Salzburgo, da qual foi mais tarde nomeado director musical assistente. Era uma compositor com uma certa reputação e autor de um célebre tratado sobre interpretação violinística. Fez da promoção de Wolfgang e da sua irmã Nannerl (também ela uma talentosa pianista) o seu supremo objectivo de vida.
Mozart entrou na Maçonaria em 1784. Baseados na igualdade e na fraternidade, os seus valores correspondiam aos ideais Iluministas e afirmavam-se contra todas as formas de tirania. Mozart compôs várias obras para a Maçonaria, que culminam na profunda simbologia que percorre A Flauta Mágica. Se o Requiem é considerado o "testamento espiritual" de Mozart, A Flauta Mágica é o seu testamento filosófico. A procura da verdade do homem entre as trevas (Rainha da Noite) e a luz (Sarastro), uma viagem iniciática de múltiplas leituras.
Melodia
A criatividade melódica é um dos traços distintivos do génio de Mozart. As suas melodias são simples, elegantes e dotadas de um gracioso cantabile. Ao contrário de Beethoven, que usava materiais musicais relativamente elementares, que depois combinava e desenvolvia em elaboradas arquitecturas, a música de Mozart é frequentemente construída em função da sua prodigiosa imaginação melódica, deixando em segundo plano a experimentação formal.
A maior parte da música sacra de Mozart foi escrita durante o período de Salzburgo. Depois de se instalar em Viena, em 1781, Mozart apenas escreveu a monumental e inacabada Missa em Dó Menor, o motete Ave verum Corpus e o Requiem. Como é próprio da época, Mozart recorre a uma multiplicidade de estilos, combinando o rigor do contraponto e da fuga com o melodismo e a expressividade da escola italiana, ecos da ópera com reminiscências da música tradicional austríaca e da Alemanha do Norte. Destaca-se a Missa da Coroação - cujo paralelo entre o "Agnus Dei" e a ária "Dove sono" de As Bodas de Fígaro testemunha a interpenetração sem preconceitos do estilo sacro e teatral -, a Missa Solemnis K. 139 ou a já citada Missa em Dó menor K. 427.
Dramaturgo milagroso que Goethe comparou a Shakespeare, Mozart soube mostrar nas suas óperas a universalidade das paixões humanas, numa combinação perfeita entre palavra e música. Percorreu as várias tendências da ópera do seu tempo (ópera cómica, ópera séria, Singspiel, serenata), aperfeiçoando e renovando cada uma delas. Notável na caracterização psicológica das personagens (que nunca são estereotipadas, mas partilham das contradições e indecisões humanas), soube caracterizar tipologias sociais através do uso de linguagens musicais distintas e manipular os códigos vigentes em função da naturalidade e fluência da acção. Além das óperas italianas que integram a já referida trilogia Da Ponte, destacam-se as óperas sérias Idomeneo e a La Clemenza di Tito e os Singspiels (ópera de tradição alemã que inclui diálogos falados) O Rapto do Serralho e A Flauta Mágica.
Apesar de ser uma das áreas menos conhecidas da produção de Mozart, a música de câmara é, juntamente com a ópera e os concertos para piano, um ponto supremo da sua carreira. Do duo ao quinteto, abordou grande variedade de formações combinando cordas e sopros. Estas obras caracterizam-se pela independência entre os vários instrumentos e pelo facto de estes poderem intercambiar entre si as funções de melodia e acompanhamento. Mozart foi um mestre do quarteto de cordas, mas o seu talento atinge também grande plenitude nos quintetos. Aconselha-se a audição do Quinteto para piano e sopros K. 452, dos Quintetos de cordas K. 515, 516 e 614 ou do Quinteto com clarinete K. 581.
A mais célebre obra religiosa de Mozart, quer pela sua genialidade, quer pelas circunstâncias romanescas que envolvem a sua génese. No Verão de 1791 Mozart recebeu um mensageiro secreto que lhe encomendou uma missa de defuntos. Não só ignorava quem era o destinatário da partitura - o conde Walsegg-Stuppach - como o facto de a sua própria morte vir interromper a tarefa. Esta seria completada pelo seu amigo e discípulo Franz-Xaver Süssmayr. De carácter grave e sombrio, o Requiem afasta-se da habitual contaminação operática, que na época impregnava as partituras religiosas. O colorido orquestral é escuro, com predomínio do timbre peculiar dos corni di bassetto, muito característico das obras maçónicas do compositor. Como nenhum outro, Mozart soube exprimir a partir do texto da liturgia cristã todos os estados de espírito perante a passagem inexorável da morte. O "testamento espiritual" de Mozart ficará como um dos pontos mais altos da criação humana.
Antonio Salieri, respeitável compositor em Viena, foi colocado na sombra pelo génio de Mozart. A rivalidade terá existido, mas a posteridade alimentou uma lenda injusta (Salieri teria estado por trás da morte de Mozart motivado pela inveja e o ciúme), inspirada em duas peças de teatro: Mozart e Salieri, de Pouchkine (1832), e Amadeus, de Peter Shaffer (1979). A primeira deu origem à ópera homónima de Rimski-Korsakov e a segunda ao filme de Milos Forman. Visto durante muito tempo como um compositor medíocre, Salieri tem sido reabilitado por algumas gravações nos últimos anos, entre as quais o CD de Cecilia Bartoli.
Mozart escreveu mais de 60 sinfonias, embora a numeração oficial só indique 41. Muitas são obras de juventude, outras perderam-se. Inicialmente influenciadas pelos sinfonistas italianos (como Sammartini) e por Haydn, caracterizam-se pela riqueza de orquestração, liberdade na escrita das várias partes e variedade emocional. As mais importantes são a Sinfonia Praga e as três últimas (n.º 39, n.º 40 e n.º 41, Júpiter), escritas em apenas seis semanas no Verão de 1788. Embora não formem um ciclo, encontram-se unidas por um maior nível de profundidade e caracterizam-se por uma densidade e um dramatismo sem precedentes. O génio de Mozart manifesta-se no seu conteúdo, que faz delas o ponto mais alto da sua produção sinfónica e da sinfonia clássica em geral.
O termo "serenata" engloba peças de características diversas na produção de Mozart e dos seus contemporâneos. No século XVIII empregavam-se indiferentemente as designações "divertimento", "serenata" ou "cassation" para obras de inspiração comum. A maioria das peças desta índole foram compostas na década de 1770, destinando-se a contextos tão diversos como reuniões em jardins, serenatas, casamentos, aniversários, concertos domésticos, etc. A formação instrumental podia ser reduzida ou usar efectivos semelhantes aos da sinfonia. A célebre Pequena Serenata Nocturna é uma espécie de sinfonia em miniatura, mas o modelo mais habitual da serenata incluía sete ou oito andamentos, dos quais o primeiro era geralmente uma marcha. A serenata era também um campo privilegiado no cruzamento entre a música de câmara e a música para agrupamentos de sopros, que se apresentavam ao ar livre (Harmoniemusik). A notável Grand Partita (ou Serenata K.361/370a), para treze intérpretes, constitui um ponto culminante desta tradição.
"Demasiado fácil para as crianças e demasiado difícil para os adultos". Esta célebre frase a propósito da música para piano de Mozart assume grande pertinência nas suas 18 sonatas. A sua pureza de expressão solicita espontaneidade, rigor e equilíbrio. Como escreveu Brendel "Mozart não é feito de porcelana, nem de mármore, nem de açúcar", como algumas interpretações podem fazer crer. Sem atingir a estatura do ciclo de Sonatas para Piano de Beethoven nem a inspiração dos Concerto para piano do próprio Mozart (verdadeiros dramas sem palavras), condensam várias páginas admiráveis (por exemplo as Sonatas K. 310, 331, 457, 570 e 576).
Em 1781 Mozart rompeu com o príncipe-arcebispo Hieronymus von Colloredo e abandonou Salzburgo para se instalar em Viena. Trocava a posição de músico-funcionário, característica do Antigo Regime, pelo estatuto de artista livre. Os primeiros anos em Viena foram bastante prósperos. Mas depois de quatro ou cinco temporadas foi perdendo a popularidade, os gastos familiares aumentaram, a saúde deteriorou-se e não conseguiu nenhum cargo estável, salvo um título honorífico em 1787 como compositor de música de câmara do imperador, com um salário que era menos de metade do que havia recebido Gluck antes dele. A maior parte das obras que imortalizaram Mozart foram compostas nestes dez últimos anos de vida, que acabariam em miséria e sofrimento. O menino-prodígio que tinha deslumbrado a Europa durante 30 anos, autor de algumas das maiores criações da humanidade, foi depositado numa vala comum no cemitério de Saint-Marx.
Cristina Fernandes
"in Público"
2 Comentários:
O texto claro que está "excelente" as fotos estão fantasticas.
"O menino-prodígio que tinha deslumbrado a Europa durante 30 anos, autor de algumas das maiores criações da humanidade, foi depositado numa vala comum no cemitério de Saint-Marx." Felizmente, essa enorme injustiça foi desfeita e hoje Mozart é considerado um dos melhores que já existiu.
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